quinta-feira, julho 24, 2008

Entrevista Mike Davis

O que causa e o que significa a favelização no mundo? Estas são algumas das indagações que Mike Davisa procura responder nesta entrevista. Uma importante contribuição para quem entende a Favela como consequência do urbano e não como um simples problema urbano.




sábado, agosto 18, 2007

Encontro marcado com a lucidez

Silvio Tendler era um garoto de 20 anos quando teve contato pela primeira vez com um documentário. Foi em 1970, no Rio de Janeiro, durante a montagem de O país de São Saruê, de Vladimir Carvalho. Tendler não se esquece até hoje do convite feito pelo diretor paraibano. “Ele me perguntou se eu não queria ir para a Paraíba montar no lombo de um jegue e filmar”, lembra. “Aceitei, mas não fui. Na época, eu era um garoto de Copacabana muito classe média, que sonhava com o cinema francês”, confessa.
Hoje, quase quatro décadas depois, o documentarista terá a chance de redimir-se junto ao autor de Barra 68 quando apresentar o filme Encontro com Milton Santos ou o mundo global do lado de cá, destaque na última noite da mostra competitiva do 39º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. “Vejo esse encontro com muita felicidade. O Vladimir é um mestre para mim”, diz.
Projeto maturado há 10 anos, o filme, amparado por título carnavalesco – ou, como prefere o diretor, “alemão” – traz à tona a questão da globalização e suas perversidades, tudo sob a ótica do geógrafo Milton Santos, morto em 2001. Para Tendler, a temática é encarada como uma espécie de panfleto necessário. “A globalização me assustou. Ela tomou conta dos anos 80 e, nos 90, foi uma quebradeira total, com o Collor privatizando tudo. Fiquei perplexo com a rapidez com que as coisas iam acontecendo”, conta. “O filme mostra como a globalização é usada de forma errada, com o poder e a riqueza concentrados nas mãos de poucos. Algo que acontece inclusive com o meio audiovisual”, observa.
Com uma hora e meia de duração e o (pequeno) orçamento de R$ 800 mil, Encontro com Milton Santos nasceu do acaso. Mais precisamente no meio de um outro trabalho – um documentário sobre o geógrafo Josué de Castro, em 1995. “Era um projeto produzido pela família do Josué, no qual eu tinha que entrevistar várias pessoas. Entre elas, estava o professor Milton Santos, um dos nomes mais importantes da geografia naquele momento”, explica o diretor, que viajou até Paris para o primeiro encontro. “Ele foi de uma clareza, de uma lucidez assustadora sobre vários assuntos. Fiquei tão fascinado que combinei de fazermos algo juntos no futuro”, conta.
Atarefados com vários projetos, os dois acabariam adiando o novo encontro. Mas um imprevisto acelerou o processo. “Em 2000, fiquei sabendo que ele estava doente e de repente vi o cavalo encilhado passar na minha frente. Percebi que a chance era aquela, até porque ele era o intelectual que se destacava sobre o tema da globalização”, recorda Tendler, que marcou um novo contato cara a cara para janeiro do ano seguinte, na Universidade de São Paulo (USP). “Foi a última entrevista – ele morreria três meses depois – e a mais difícil da minha vida porque era um depoimento fantástico. O Milton sempre foi bastante formal, mas dessa vez ele apareceu completamente descontraído. Esqueceu a doença por algumas horas”, revela. (http://divirta-se.correioweb.com.br/)


quinta-feira, dezembro 14, 2006

Obrigado por Fumar

Obrigado por Fumar (Thank You for Smoking) é uma das melhores comédias do ano. O filme de Jason Reitman mostra a vida de Nick Naylor, lobista da indústria do cigarro, cujo trabalho é mostrar que esta não é tão ruim assim.
O filme não defende o tabagismo, e os magnatas do fumacê são mostrados de forma bem sarcástica. Mas vemos a hipocrisia dos críticos do cigarro, e um panorama do complexo jogo de pressões e convencimento da sociedade norte-americana.
O assunto principal, aliás, não é "cigarro", e sim "convencer o público". Pra isso vale tudo, e Naylor usa um arsenal de truques retóricos junto a redes de TV, comissões do Congresso e até entre usuários comuns. Ele é o funcionário modelo, que veste a camisa de sua empresa e tenta convencer a fumar jovens incautos em vôos da classe econômica.
Algumas das cenas mais interessantes são quando ele tenta justificar seu profissão para seu filho pré-adolescente, Joey. A cena abaixo não é particularmente engraçada, mas é muito relevadora: Joey aprende como vencer uma discussão sem ter razão.
O garoto participa do clube de debates no colégio, uma tradição norte-americana, onde os alunos se destacam por seu brilho argumentativo, independentemente da tese que escolham para defender. Gerações inteiras cuidadosamente adestradas para distorcer e desvalorizar os argumentos contrários.

Mas não é porque os gringos levaram a falácia a um nível quase científico que isso é exclusividade deles. Falácias são uma prática universal, tão disseminada que a maioria das pessoas as usa sem perceber. E a quantidade de truques retóricos disponíveis é enorme: um texto do professor Fredric Litto cataloga 45 deles -- e ainda ficou faltando coisa.
Arthur Schopenhauer é um pouco mais modesto: seu opúsculo sobre a dialética erística (que na edição da Martins Fontes ganhou o nome de A arte de ter razão) analisa "apenas" 38 técnicas, mas de forma mais aprofundada.
Aliás, fujam da edição que a Topbooks fez do mesmo livro, chamada "Como vencer um debate sem precisar ter razão" e recheada de notinhas pentelhas do astrólogo Olavo de Carvalho -- que não só tenta sequestrar o texto original, como se mostra um dedicado praticante daquilo que diz combater.
Artigo retirado do excelente blogger de Marcus Pessoa - Velho do Farol -http://marcuspessoa.blogspot.com.

terça-feira, novembro 28, 2006

Planeta Favela - Mike Davis

Segue abaixo algumas informações retiradas do sítio da editora Boitempo sobre o livro de Mike Davis - Planeta Favela, uma excelente leitura pra todos que se interessam pelo ambiente urbano.
Se a imagem da metrópole no século XX era a dos arranha-céus e das oportunidades de emprego, Planeta Favela leva o leitor para uma viagem ao redor do mundo pelos realidade dos cenários de pobreza onde vive a maioria dos habitantes das megacidades do século XXI.
O urbanista norte-americano Mike Davis investiga as origens do crescimento vertiginoso da população em moradias precárias a partir dos anos 80 na América Latina, na África, na Ásia e no antigo bloco soviético. Combinando erudição acadêmica e conhecimento in loco das áreas pobres das grandes cidades, Davis traz a história da expansão das metrópoles do Terceiro Mundo, analisando os paralelos entre as políticas econômicas e urbanas defendidas pelo FMI e pelo Banco Mundial e suas conseqüências desastrosas nas gecekondus de Istambul (Turquia), nas desakotas de Accra (Gana) ou nos barrios de Caracas (Venezuela), alguns dos nomes locais para as aproximadamente 200 mil favelas existentes no planeta.
Cada aspecto dessa “nova cidade" é analisado: informalidade, desemprego, criminalidade; o gangsterismo dos senhorios que lucram com a miséria; a incapacidade do Estado de oferecer infra-estrutura e casas populares, e em contrapartida sua atuação nas remoções de “revitalização” que abrem caminho para a especulação imobiliária; as soluções ilusórias de ONGs e organismos multilaterais; os limites das estratégias de titulação de propriedade, os riscos ambientais e sanitários de se viver em favelas, com exposição a resíduos tóxicos e carência de saneamento básico; o crescimento do fanatismo religioso; e a disseminação de doenças como cólera e AIDS.
Além das estatísticas, o autor revela as histórias trágicas que os dados frios não mostram, como as crianças abandonadas pelas famílias nas ruas de Kinshasa (Congo), por serem consideradas “feiticeiras”, ou a nuvem de gás letal expelida pela fábrica da Union Carbide na Índia, que causou a morte de aproximadamente 22 mil habitantes de barracos nos arredores da unidade da empresa, que não tinham informação sobre os riscos ou opção de morar em outro local.
O livro traça um retrato da nova geografia humana das metrópoles, onde algumas “ilhas de riqueza” florescem em torres de escritório ou condomínios fortificados que imitam os bairros do subúrbio norte-americano, separados da crescente população favelada por muros e exércitos privados, mas conectados entre si por auto-estradas, aeroportos, redes de comunicação e pelo consumo das marcas globais. Como coloca o autor, citando, entre outros, Alphaville, enclaves constituídos como “parques temáticos” deslocados da sua realidade social mas integrados na globalização, onde se deixa de ser cidadão do seu próprio país para ser um “patriota da riqueza, nacionalista de um afluente e dourado lugar-nenhum”, como os classifica o urbanista Jeremy Seabrook, citado no livro.
Davis explora a natureza desse novo contexto do conflito de classes, entre os que vivem dentro dos muros como em uma “cidade medieval”, e a “humanidade excedente”, que vive fora dela. Um “proletariado informal”, ainda não compreendido pelo marxismo clássico e tampouco pelo neoliberalismo.
A materialização extrema desse conflito está no último capítulo do livro, que trata das análises do Pentágono sobre a guerra do “futuro” nas megafavelas do Terceiro Mundo, e o presente do exército norte-americano tentando monitorar as vielas de Sadr City, a maior favela de Bagdá. Se a globalização da riqueza é constantemente celebrada pelos seus entusiastas, em Planeta Favela Mike Davis mostra o outro - e imenso - lado da história: as sincronias e semelhanças nada acidentais no crescimento da pobreza no mundo.
A edição brasileira traz ainda um posfácio da urbanista Erminia Maricato que dialoga com a obra de Davis e um caderno de fotografias de favelas brasileiras de André Cypriano.

Sobre o autor: Mike Davis é professor no departamento de História da Universidade da Califórnia (UCI), em Irvine, e um especialista nas relações entre urbanismo e meio ambiente. Ex-caminhoneiro, ex-açogueiro e ex-militante estudantil, Davis é colaborador das revistas New Left Review e The Nation, e autor de vários livros, entre eles Ecologia do Medo, Holocaustos coloniais, O monstro bate a nossa porta (editora Record), e Cidade de quartzo: escavando o futuro em Los Angeles, que será reeditado pela Boitempo em 2007.

terça-feira, novembro 21, 2006

Ócio Contemplativo

Hoje acordei com pensamentos preguiçosos, o que, todos concordam, limita a capacidade de escrever alguma coisa. Por isso resolvi praticar o ócio, mas como diria Paul Lafarque, no clássico "Droit à la Paresse" (o direito a preguiça), um antecessor do nosso querido Domenico de Masi, um ócio criativo. No meu caso especifico espero desenvolver hoje um Ócio Contemplativo, ou seja, espero apenas desenvolver a capacidade de contemplar o mundo, de praticar de modo concreto a liberdade de pensamentos, de observar as pessoas, o ir e vir e, quem sabe, construir pensamentos criativos. Hoje não viverei o tempo acelerado do urbano, mas um tempo lento, longo e duradouro. A todos os amigos e interessados o convite está lançado. Viva o Ócio Contemplativo.
Como forma de estimular os pensamentos, segue duas imagens de Tepequem, um região localizada nas proximidades de Boa Vista-RR/Brasil.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Quantas pessoas já existiram na Terra?

Quantas já pensou nessa pergunta levanta a mão? A resposta correta é algo em torno de 106 bilhões de pessoas, uma soma vultuosa e significativa. Mas alguma pergunta ou questionamento?
Como ninguém se apresentou para outro questionamento incrível irei complementar a afirmação:
Hoje cerca de 6 bilhões de pessoas habitam a Terra. Ou seja, pouco mais de 5% do número de seres humanos que nasceram ainda permanecem vivos. Oito mil anos antes de Cristo a população do planeta era de 5 milhões de pessoas e os nascimentos para cada mil pessoas ficava na faixa de 80. Desde aquela época os nascimentos por mil vem caindo, hoje para cada mil pessoas na Terra nascem 23. Porém, a expectativa de vida vem galgando patamares cada vez maiores, aumentando o número de pessoas vivas e de idosos.

domingo, novembro 12, 2006

Jared Diamond

Um dos mais relevantes escritores da atualidade é Jared Diamond, um geógrafo norte-americano, que ao longo de sua obra tem surpreendido com suas análises sobre a presença humana na história do planeta e seus respectivos desdobramentos. Assim, segue abaixo um trecho de um de seus livros para apreciação, para os interessados recomendo a leitura integral.
"(...) da próxima vez que você visitar um zoológico, passe cautelosamente pela jaula dos macacos. imagine que aqueles macacos perderam todos os pelos e imagine que numa jaula ao lado estivessem pessoas sem roupas que não pudessem falar mas que, fora isto, fossem normais. então tente adivinhar quanto aqueles macacos são parecidos conosco geneticamente. você sugeriria que um chimpanzé divide 10%, 50% ou 99% de seu programa genético com humanos?(...)Então se pergunte porque aqueles macacos estão na jaula e por que outros macacos estão sendo usados para experimentos médicos quando não é permitido fazer o mesmo com humanos. digamos que descobríssemos que os chimpanzés são 99,9% iguais a nós geneticamente e que as importantes diferenças entre humanos e chimpanzés são ditadas por uns poucos genes. você ainda pensaria que é correto colocar chimpanzés em jaulas e experimentar com eles? considere então aquelas pessoas com deficiências mentais que têm menor capacidade de resolver problemas do que chimpanzés; que têm menor capacidade de cuidarem de si mesmas, de comunicarem-se, de se relacionarem socialmente do que chimpanzés. qual a lógica que proíbe experimentos médicos com estas pessoas mas não os proíbe com chimpanzés?"
Este trecho foi retirado do Livro – The Third Chipanzee (O Terceiro Chipanzé), obra de Jared Diamond, sobre a evolução do homem. Outr grande livro desse autor é o mais recente, Colapso de 2005.