segunda-feira, novembro 28, 2005

FNB e Não PIB, PNB ou Renda Percapita

Um grupo de economistas japoneses defendeu recentemente que o seu país deveria preocupar-se menos com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e inspirar-se no exemplo do Butão, um pequeno reino dos Himalaias, que mede o seu progresso com base num outro tipo de indicador: a Felicidade Nacional Bruta (FNB). "O Japão tem muito que aprender com o Butão nesta matéria", afirmou Takayoshi Kusago, ex-economista do Banco Mundial e professor da Universidade de Osaka, durante o simpósio subordinado a este tema, organizado em Tóquio no início de Outubro.
Apesar de o PIB do Butão ser de apenas 500 milhões de dólares, quase nove mil vezes inferior ao do Japão (4,4 milhões de dólares), desde 1970 que o pequeno reino budista se preocupa, sobretudo, com o crescimento do índice que mede a felicidade individual dos cidadãos. A "FNB" leva em conta fatores como o desenvolvimento socioeconômico duradouro e eqüitativo, a preservação do meio ambiente, a conservação e promoção da cultura e a boa governabilidade. "Em busca de um modelo de desenvolvimento próprio, o Butão não encontrou qualquer índice que estivesse de acordo com os valores e aspirações do país, constatando que o mundo estava dividido entre nações ricas e em nações pobres", explicou o economista butanês Karma Galay.
Os economistas japoneses admitem que no que diz respeito ao índice de FNB, os progressos do Butão são muito superiores aos do Japão, onde a taxa de suicídio é uma das mais elevadas do mundo e não raramente ocorrem mortes por excesso de trabalho. Os economistas destacaram ainda o fato de as crianças do Butão serem praticamente especialistas em questões de meio ambiente, matéria que, na opinião de Shunichi Murata, professor da Universidade Kansei Gakuin, é "muito melhor do que se ensina geralmente aos meninos japoneses"

domingo, novembro 27, 2005

Armazenar CO2 debaixo da terra pode conter efeito estufa, diz estudo

Armazenar dióxido de carbono (CO2) debaixo da terra pode ser uma técnica promissora na luta contra o efeito estufa. É o que diz um estudo divulgado hoje pela AIE (Agência Internacional de Energia) durante a Cúpula do Clima, em Buenos Aires.A idéia é "prender" o gás no subterrâneo, evitando que ele seja liberado para a atmosfera e continue a aquecê-la. A agência preconiza que se multipliquem por cinco os orçamentos para pesquisa dedicados a esta tecnologia, de modo a atingirem US$ 500 milhões por ano em escala mundial.Ao apresentar o trabalho, o diretor executivo da AIE, Claude Mandil, lembrou que as emissões mundiais de CO2 aumentarão 62% entre 2000 e 2030 se não houver novos esforços para reduzir as emissões dos gases-estufa.A técnica poderia chegar à fase industrial a partir de 2020 e ser utilizada em grande escala na segunda metade do século 21 até se tornar obsoleta com a generalização dos sistemas energéticos que não emitem CO2, como pilhas de combustível e sistemas que usam o hidrogênio, diz a agência.A AIE mencionou uma centena de projetos em curso ou em estudo em todo o mundo para armazenamento de C02, mas apenas dois de envergadura.No Mar do Norte, a companhia norueguesa Statoil capta o CO2 de uma jazida de gás natural e injeta-o no fundo do oceano, e em Wayburn, oeste do Canadá, o CO2 proveniente de uma central de gaseificação de carvão é transportado por um gasoduto e injetado em uma jazida de petróleo.Em conjunto, estes projetos só permitirão armazenar 100 milhões de toneladas de CO2 por ano até 2015, quando o potencial explorável até 2030 permitiria reter três vezes mais dióxido de carbono, segundo a agência.A tecnologia será testada pelo setor elétrico, segundo a AIE, com a construção até 2015 de dez grandes centrais térmicas dotadas de capacidade de captação e armazenamento de CO2 nas proximidades.

quinta-feira, novembro 24, 2005

Viva o jeito "slow" de ver a vida

Há atualmente na Europa um grande movimento, chamado SLOW FOOD. A Slow Food International Association – cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede na Itália, e prega, entre outras coisas, que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando os alimentos, “curtindo” a sua degustação no convívio com a família, com os amigos, sem pressa e com qualidade. A idéia é a de se contrapor ao espírito do FAST FOOD e tudo o que ele representa como estilo de vida, em que o americano "endeusou". A surpresa, porém, é que esse movimento SLOW FOOD serve de base a um movimento mais amplo chamado SLOW EUROPE, como salientou a revista Business Week na sua última edição européia. A base de tudo, está no questionamento da "pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidade do ter" em contraponto à qualidade de vida ou à "qualidade do ser".
Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhem menos horas, (35 horas por semana) são mais produtivos que os seus colegas americanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram a semana de 28,8 horas de trabalho, viram a sua produtividade crescer nada menos que 20%. Esta chamada "slow atitude" chamou a atenção do mundo inteiro, inclusive dos americanos, adeptos e apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já).Portanto, esta "atitude sem-pressa" não significa, nem fazer menos, nem menor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais "qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos pormenores e com menos "stress". Significa retomar os valores da família, dos amigos, do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do "local", presente e real, em contraste com o "global" - indefinido e anônimo.
Ser “Slow” não significa lerdeza, mas a retomada dos valores essenciais do ser humano, dos pequenos prazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver. Significa um ambiente de trabalho menos coercivo, mais alegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo onde os seres humanos, felizes, fazem com prazer, o que sabem fazer de melhor.
Portanto, sejamos “Slow”.
Aconselho aos interessados que visitem o site: www.slowfood.com

terça-feira, novembro 22, 2005

Natureza


Homem caminha com seu cãozinho em meio à neve, a temperatura estava em torno de 1ºC, na cidade de Weilheim, a 70 km de Munique, na Alemanha. Isso é que é vontade de caminhar com seu cachorrinho. Mundo estranho esse né!

Índios protestam e fecham a BR-174

Um grupo de indígenas da etnia Macuxi que vive nas proximidades da maloca Três Corações fechou a BR-174, no KM 600, sentido Pacaraima, mais conhecido por posto 100. Segundo a Polícia Rodoviária Federal os índios estão revoltados desde que uma criança da etnia foi atropelada naquele ponto da rodovia semana passada.
O objetivo do movimento é para chamar a atenção da sociedade sobre a inércia das autoridades que não tomam medidas para evitar os constantes acidentes de trânsito que ocorrem no local. Segundo o tuxaua e vereador, Carlos Alberto, já foram contabilizadas naquele trecho seis mortes de estudantes. De acordo com o policial rodoviário Bruno Perrota, a polícia está desde 8h negociando a liberação da estrada, mas foram colocados pneus incendiados no meio da pista, o que está provocando pânico nos motoristas.

sexta-feira, novembro 18, 2005

Foto: Judeus X Palestinos


Palestino corre após lançamento de gás lacrimogêneo durante protesto na vila de Bilinm, Cisjordânia. A manifestação pede o fim da construção do muro que separa os territórios palestino e israelense. Essa foto é maravilhosa, pois demonstra a brutalidade e os aspectos de ficção que esse confronto tem gerado.

segunda-feira, novembro 14, 2005

Zygmunt Bauman

Aos interessados em entender o mundo atual, com suas mazelas e problemas, recomendo o novo livro de Zygmunt Bauman, "Vidas Desperdiçadas" da Jorge Zahar Editor (2005). Bauman é um brilhante sociólogo polonês que tem dedicado atenção especial aos problemas da pós-modernidade. Entre seus livros mais conhecidos e publicados no Brasil destacam-se: Amor Líquido; Globalização: as conseqüências humanas; o mal-estar da pós-modernidade; modernidade líquida e modernidade e holocausto. Um grande autor e uma grande leitura.

sexta-feira, novembro 11, 2005

Perseguição

Segue um texto de Michel Foucault publicado em 1985 na Folha de São Paulo, portanto com mais de 20 anos de idade, mas cuja inteligência permanece intocada
A perseguição é mais ou menos como o amor: não precisa de reciprocidade para ser verídica. A perseguição, creio, não consiste em ter perseguidores mas, antes, em ser perseguido. Experiência irredutível e autônoma, no sentido de que prescinde muito bem dos outros. No fundo, não precisamos dos outros para sermos perseguidos. Claro, o rosto de outrem se contrai, os outros estão extremamente próximos, sem nenhuma distância, iminentes, debruçados sobre suas vítimas. E, no entanto, na experiência da perseguição, não é isso o essencial. Ser perseguido é ter uma certa relação com a linguagem. É não poder usar a primeira pessoa, não poder dizer eu, sem sentir esse eu como aberto, como fraturado pelos outros, por eles, por todos esses eles que me cercam. Ser perseguido é não poder falar sem que essa fala escape àquele que fala, fuja ao seu controle e, girando ao redor de si mesma, se volte contra ele, pronunciada agora por um outro, pelos outros. Ser perseguido é falar num mundo absolutamente silencioso, onde ninguém, onde ninguém responde; mas, inversamente, logo que paramos de falar e nos empenhamos um pouco em ouvir, escutamos nossas próprias palavras, refluindo até nós, confiscadas pelos outros, metamorfoseadas e, agora, hostis e letais. O perseguido ouve o silêncio do mundo — mas um silêncio todo murmurante de palavras que são o avesso de sua própria linguagem.
Fragmento radiofônico, transcrito de uma emissão da "France Culture" de 30/6/84 e traduzido por MICHEL LAHUD. Publicado na Folha de S.Paulo, domingo, 21 de abril de 1985

Angeli


Como sempre Angeli retrata coerentemente a insensibilidade das elites locais com os nossos problemas diários. Muitas vezes as pessoas se preocupam com problemas distantes do nosso país e esquecem a miséria cotidiana em que vive a maior parte do nosso povo.

terça-feira, novembro 08, 2005

As ruas de Paris

O turista eventual não presta atenção nas Cités da Escuridão conforme ele segue do aeroporto para a Cidade das luzes. Mas elas são grandes e importantes – e o que o turista encontraria nelas, caso se desse ao trabalho de visitá-las, ia horrorizá-lo.Uma espécie de anti-sociedade cresceu nelas – uma população que busca o sentido da vida no ódio que sente por aquela outra sociedade francesa, "oficial". Esta alienação, esta vasta desconfiança é a maior que encontrei em qualquer outro canto do mundo, inclusive nas grandes favelas negras da África do Sul no Apartheid. Ela está à mostra no rosto dos jovens, a maioria prematuramente desempregada, que circulam por entre seus prédios. Quando você se aproxima para conversar com eles, suas expressões imutáveis não acusam o reconhecimento da humanidade compartilhada; eles não fazem um gesto de cortesia social. Se você não é um deles, você está contra eles. [...]Quando agentes da França oficial vêm às cités, os moradores atacam. A polícia é odiada. Um jovem malaio, que acredita não ter emprego na França por conta da cor de sua pele, descreveu como a polícia sempre chega preparada para o ataque, seus cacetetes à mostra – preparados para bater em qualquer um que se aproxime, não importa quem ou se é inocente de crime – antes de retornar à segurança da delegacia. A conduta da polícia, ele disse, explica porque os moradores jogam coquetéis Molotov contra eles de suas casas. Quem toleraria este tratamento vindo de uma police fasciste? [...]Antagonismo contra a polícia pode ser compreensível, mas a conduta destes jovens moradores das cités contra os bombeiros que vêm salvá-los de incêndios que eles mesmos começaram mostra o nível de profundidade de seu ódio pela sociedade oficial. Eles recebem os bombeiros (cujo lema é sauver ou périr, salvar ou morrer) com coquetéis Molotov e pedras quando eles chegam para sua missão, carros blindados freqüentemente têm de proteger os caminhões de bombeiros.
O título do artigo de Theodore Dalrymple é Os bárbaros às portas de Paris. Muitas vezes perturbador, às vezes francamente conservador. Outras tantas parece incrivelmente objetivo.
Retirado de No minimo Weblog

A Internet Segundo Manuel Castells

Professor de sociologia na Universidade de Berkeley, Califórnia, EUA, Manuel Castells ocupa hoje o cargo de diretor de pesquisa em uma Universidade virtual mundial, o Internet Interdisciplinary Institute de Barcelona. Essa experiência pioneira mobiliza 20 mil estudantes em 15 países para cursos unicamente pela Internet.
Le Monde - Em seu livro anterior, 'A Era da Informação', o senhor mostrou como nossas sociedades se organizam em redes. Hoje o senhor dedica toda uma obra à Internet. Por quê?
Manuel Castells - As banalidades e as falsas idéias que circulam na web me irritam. Dispomos hoje de elementos suficientes para demonstrar que a web não isola e tampouco é instrumento do poder ou do mundo dos negócios. Ao contrário. É espaço descentralizador e cidadão. A Internet é fenômeno econômico, social e político, mas não é tecnologia que traga uma solução global para os problemas da humanidade nem um sistema que crie desigualdades sociais.

Le Monde - O senhor insiste no 'espírito hacker' que marcou os primeiros anos da Internet. O que resta dessa cultura?
Manuel Castells - Quando falo 'hackers', refiro-me aos apaixonados por informática que inventam e inovam por prazer, e não 'crackers' que praticam o mal. Creio que restam muitíssimas coisas da cultura original da Internet. O próprio funcionamento da web, por exemplo, ainda é feito com programas de código aberto criados por essa comunidade. Dois terços dos servidores do mundo utilizam o sistema Apache, desenvolvido e mantido por uma rede cooperativa de informáticos. Ao contrário, as práticas da Microsoft me parecem avessas a essa cultura. A Microsoft é uma empresa genial na comercialização, sem inovações. Mas o que me parece mais fundamental é que a 'cultura hacker' hoje impregna grande parte da sociedade. Ela se difunde junto às novas gerações e não só nos campos tecnológicos. As organizações não-governamentais são boa ilustração disso. Elas utilizam capacidades de inovação formidáveis para deter a pobreza, vencendo o peso tecnocrático dos governos. Quanto mais uma sociedade é informatizada e dá economia do conhecimento, mais importante é sua capacidade de inovar no interior do sistema, com meios criativos. Essa é a cultura herdada da ética dos hackers.

Le Monde - Como o grande público se apropria da Internet e o que ele, por sua vez, traz para a rede?
Manuel Castells - A pergunta que se deve sempre colocar é a seguinte: uma tecnologia, sim, mas para fazer o quê? Nisso a Internet não difere das outras grandes tecnologias da história. Ela se difunde, portanto, mais depressa nos meios que a utilizam. Mas uma técnica se torna instrumento importante de práticas sociais somente quando a sociedade em seu conjunto tem necessidade dela para avançar. Hoje as pessoas constroem a web à sua imagem. É uma baderna, pois tudo coexiste na Internet: utilizações sociais, expressões políticas, rede de sociabilização pessoal, pesquisa de informações, movimentos associativos, mas também propaganda nazista, pedofilia e pornografia. Isso preocupa os políticos, pois esse espaço não pode ser totalmente controlado. Mal pode ser reprimido. O grande público tem, portanto, papel a exercer em seu desenvolvimento. Aliás, ele não se privou disso. Os internautas realmente produziram os bate-papos, os grupos de notícias, os fóruns... Os leilões online, a arte digital ou o download de música foram inventados, dessa maneira, e depois adotados por empresas.

Le Monde - O recente Fórum de Porto Alegre no Brasil mostrou as premissas de uma sociedade civil mundial capaz de se mobilizar por grandes causas. A Internet tem um papel significativo nesse processo?
Manuel Castells - Vemos surgir nesse momento os embriões de uma sociedade civil planetária. O papel da rede mundial é essencial, pois permite a existência em suas identidades locais de pessoas que vêm de culturas e horizontes diferentes. Existe uma sociedade civil que se estrutura melhor em nível mundial do que nacional. Hoje o interesse do público por problemas mundiais como os direitos humanos ou as questões ambientais fez surgir uma série de redes e de intervenções sobre as estruturas e as instituições que determinam a vida das pessoas. O interessante é que a sociedade civil tem por alvo o Estado para tentar obter mudanças em suas condições de vida. Ela não tem ponto de referência em um Estado global. Ela passa, portanto, pelos meios de comunicação que estão à sua disposição. As mídias, mas também a Internet são muito úteis, pois através delas os atores da sociedade civil criam uma sensibilidade que indiretamente influencia as instituições políticas. É assim que a Internet se transformou hoje em uma esfera política que não era antes.

Le Monde - Apesar dessa apropriação da web por um número crescente de internautas, o tema da divisão digital nunca foi tão importante. Por quê?
Manuel Castells - Todo mundo deveria ter direito a utilizar a Internet e ninguém deveria ser penalizado por questões de geografia ou de dinheiro. Além dessas considerações, há outros elementos que fazem que a divisão digital subsista. A rapidez na Internet é um deles. A maneira como os que estão na Internet molda a rede à sua imagem é outro. Quanto mais demorar a democratização da Internet, mais a web se desenvolverá em torno de valores que não são os do conjunto da sociedade. A difusão da Internet sobre o conjunto do planeta exigirá forte ação dos Estados, com ações públicas nacionais e internacionais.
As diferenças culturais, financeiras e infra-estruturais hoje são tais que podemos ter um terço do planeta estruturado ao redor da Internet e dois terços excluídos, com tudo o que isso significa em termos de acesso à informação ou aos recursos empresariais. O desenvolvimento da rede, que era exponencial, hoje chega ao seu limite.

(Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves) (Le Monde, Uol.com/Mídia Global, 1/6)